Dispositivos de Assistência Ventricular
Os Dispositivos para Assistência Ventricular (DAVs) são considerados uma opção terapêutica segura e eficaz para a estabilização hemodinâmica de pacientes com IC crônica permitindo a manutenção da pressão sistêmica ou pulmonar em níveis adequados, a redução da demanda de oxigênio do miocárdio e a descompressão do ventrículo assistido, melhorando a perfusão de órgãos vitais e do estado geral do paciente.
Os DAVs podem ser classificados quanto ao modo de implante como intracorpóreos ou paracorpóreos; quanto ao tempo de assistência, em temporários ou de longa duração; e quanto ao padrão de fluxo gerado, em fluxo contínuo ou pulsátil.
- Ponte para transplante: situação em que os dispositivos podem oferecer suporte hemodinâmico e estabilidade clínica, até a realização do transplante cardíaco, no contexto da gravidade progressiva dos pacientes e pela indisponibilidade de realização do transplante em um curto prazo.
- Ponte para recuperação: situação na qual existe a perspectiva de melhora da função ventricular após insulto agudo, sendo retirado o dispositivo com a melhora da função ventricular, como na disfunção ventricular pós-IAM, na síndrome de Takotsubo e na miocardite.
- Ponte para decisão: deve ser considerada em pacientes gravemente enfermos, cuja necessidade de suporte hemodinâmico é imediata, devido ao alto risco de morte por falência cardíaca e desfexo incerto, podendo ser direcionado para o transplante cardíaco ou ponte para recuperação.
Materiais biocompatíveis e topografia de superfície
Conditioning of hiPSC-derived cardiomyocytes using surface topography obtained with high throughput technology
Lucas R X Cortella1, Idágene A Cestari1, Ricardo D Lahuerta1, Matheus C Araña1, Marcos Soldera2,3, Andreas Rank2, Andrés F Lasagni2,4 and Ismar N Cestari5,1
Biomedical Materials, Volume 16, Number 6
Lucas R X Cortella et al 2021 Biomed. Mater. 16 065007
https://iopscience.iop.org/article/10.1088/1748-605X/ac1f73
Cortella LRX, Cestari IA, Guenther D, Lasagni AF, Cestari IN. Endothelial cell responses to castor oil-based polyurethane substrates functionalized by direct laser ablation. Biomed Mater. 2017 Oct 25;12(6):065010.
doi: 10.1088/1748-605X/aa8353. PMID: 28762961
Modelagem do sistema cardiovascular
O funcionamento do sistema cardiovascular envolve interações complexas os demais sistemas fisiológicos e as simulações desse sistema envolvem modelos com diferentes graus de complexidade. Os modelos são uma ferramenta de grande aplicação na pesquisa e desenvolvimento de dispositivos médicos. Os modelos permitem simular o funcionamento de órgãos e sistemas. Dessa maneira auxiliam no desenvolvimento de dispositivos médicos, fins didáticos e científicos, contribuindo para o entendimento das funções e interações entre os componentes do sistema e de fenômenos fisiológicos complexos.
Na Bioengenharia são desenvolvidos modelos hidráulicos do sistema cardiovascular e modelos computacionais.
Os modelos hidráulicos, chamados na literatura de “mock loops” ou “circuitos simulados” que permitem gerar em bancada condições de pressões e fluxos que representam as condições hemodinâmicas presentes no sistema fisiológico humano.
As simulações a partir de modelos físicos possibilitam a avaliação do uso de dispositivos desenvolvidos ou em desenvolvimento. Como em todos os sistemas fluídicos, o fluxo de sangue no sistema cardiovascular obedece às leis da conservação da massa, conservação do momento e conservação de energia, que são descritas por um grupo de equações. Os modelos em geral demandam simplificações visando reduzir a complexidade da representação.
Uma primeira divisão na literatura na dinâmica cardiovascular é a classificação em domínio do tempo e domínio da frequência. As representações do sistema cardiovascular no domínio da frequência são baseadas na linearização das equações que governam o sistema desprezando-se os termos de aceleração por convecção. As equações simplificadas são então resolvidas no domínio da frequência o que resulta em métodos rápidos com soluções eficientes. No entanto devido ao processo de linearização são mais adequadas às análises de problemas nos quais o sistema, no seu estado de equilíbrio (referência), recebe somente uma pequena perturbação.
Modelos de dimensão1, 2 e tri-dimensionais dão origem a uma série de equações diferenciais parciais descrevendo a conservação da massa e momento, equações de Navier-Stokes, também complementadas por equações de equilíbrio. No contexto de mecânica vascular, os modelos 1D tem a facilidade de representar a transmissão das ondas nos vasos, importantes na aorta e grandes vasos. Soluções 3D são necessárias para processar padrões complexos de fluxo, por exemplo nos ventrículos, ao redor das válvulas, próximo a bifurcações ou em regiões com vórtices ou separação de fluxos. Só existem soluções analíticas para as geometrias mais simples, sendo sempre necessário recorrer a soluções numéricas. No contexto das redes vasculares, os modelos 2D representam a variação radial da velocidade num tubo simétrico em relação ao eixo. Em modelos 1D a velocidade é integrada na área de seção transversal para resultar em um fluxo baseado em algumas simplificações do perfil de velocidade.
Para faixas mais amplas de problemas no quais os termos não lineares não podem ser desprezados, os métodos de análise no domínio do tempo devem ser empregados.
Os modelos dimensão zero, ou parâmetros agrupados, são em geral desenvolvidos para simular a hemodinâmica global no sistema circulatório e assumem uma distribuição uniforme das variáveis fundamentais (pressão, fluxo e volume) do modelo em qualquer instante de tempo, enquanto modelos dimensionais de ordens mais elevadas reconhecem as variações desses parâmetros no espaço.
A seleção da dimensão na representação, de 0D para 3D, depende dos objetivos e da precisão necessária ao estudo. Os modelos de ordem 0 aplicados ao sistema cardiovascular se iniciaram com a modelagem do fluxo arterial usando os chamados modelos de Windkessel (do alemão, câmara de ar), e depois foram aplicados a válvulas e vasos.
Na área de modelagem computacional investigamos a dinâmica de fluidos biológicos a partir de modelos computacionais com resultados validados a partir de medições em modelos físicos da circulação arterial.
Impressão 3D em medicina
A manufatura aditiva, geralmente referida como impressão 3D, permite a criação de modelos tridimensionais por meio de adição de camadas de material, gerando um objeto criado diretamente a partir de um modelo virtual (em software de CAD - Computer Aided Design - Desenho Auxiliado por Computador) sem necessidade de moldes ou da elaboração de planejamento produtivo para a peça.
Nosso laboratório implantou a manufatura aditiva para utilização em saúde, com a instalação de uma impressora Stratasys J750, que utiliza a metodologia patenteada de jateamento de resinas poliméricas curadas por luz UV. Essa metodologia permite a criação de modelos anatômicos com materiais de diferentes propriedades mecânicas. Estes modelos são impressos a partir da obtenção de imagens médicas dos próprios pacientes e assim podem ser utilizados para o planejamento pré-cirúrgico.
Fluxo de trabalho para obtenção de modelos anatômicos 3D específicos ao paciente de interesse
O Laboratório de Bioengenharia do InCor já realizou algumas colaborações clínico-cirúrgicas, entre as quais destacamos:
- Estudo para planejamento cirúrgico de cirurgia de correção de má formação cardíaca congênita;
- Suporte de ressecção de tumor pulmonar em cirurgia robótica;
- Planejamento de fenestras em Stent Aórtico;
- Estudo de modelo de obstrução da cava abdominal